31 de maio de 2008

A Alegoria da Caverna

Um dos textos que mais marcou-me em termos escolares e que de certa forma ajudou a abrir a mente foi a "A Alegoria da Caverna" de Platão. Esta semana que se passou vi algo (já não me lembro do porquê) que fez relembrar-me o mito, e decidi transcrevê-lo neste tópico, será um bocadito longo (talvez) mas também só lê quem quer.

Segue-se então "A Alegoria da Caverna" de Platão, in "República":

- Imagina agora o estado da natureza humana com respeito à ciência e à ignorância, conforme o quadro que dele vou esboçar. Imagina uma caverna subterrânea que tem a toda a sua largura uma abertura por onde entra livremente a luz e, nessa caverna, homens agrilhoados desde a infância, de tal modo que não possam mudar de lugar nem volver a cabeça devido às cadeias que lhes prendem as pernas e o tronco, podendo tão-só ver aquilo que se encontra diante deles. Nas suas costas, a certa distância e a certa altura, existe um fogo cujo fulgor os ilumina, e entre esse fogo e os prisioneiros depara-se um caminho dificilmente acessível. Ao lado desse caminho, imagina uma parede semelhante a esses tapumes que os charlatães de feita colocam entre si e os espectadores para esconder destes o jogo e os truques secretos das maravilhas que exibem.
- Estou a imaginar tudo isso.

- Imagina homens que passem para além da parede, carregando objectos de todas as espécies ou pedra, figuras de homens e animais de madeira ou de pedra, de tal modo que tudo isso apareça por cima do muro. Os que tal transportam, ou falam uns com os outros, ou passam em silêncio.
- Estranho quadro e estranhos prisioneiros!
- E, no entanto, são ponto por ponto tal qual como nós. Em primeiro lugar, julgas que percepcionarão outra coisa, de si mesmos e dos que se encontram a seu lado, além das sombras que na sua frente se produzem, no fundo da caverna?
- Que outra coisa poderão ver, pois que, desde o nascimento, foram compelidos a conservar a cabeça permanentemente imóvel?
- Verão, apesar disso, outras coisas além dos objectos que passam à sua rectaguarda?
- Não.
- Se pudessem conversar uns com os outros, não concordariam em dar às sombras que vêem os nomes dessas mesmas coisas?
- Sem dúvida.
- E se no fundo da sua prisão houvesse eco que repetisse as palavras daqueles que passam, não imaginariam que ouviam falar as sombras mesmas que desfilam diante dos seus olhos?
- Sim.
- E, por fim, não julgariam eles que nada existiria de real além das sombras?
- Não há dúvida.

- Pensa agora naquilo que naturalmente lhes aconteceria se fossem libertados das suas cadeias e se fossem elucidados acerca do erro em que estavam. Liberte-se um desses cativos, e que ele seja obrigado a levantar-se imediatamente, a voltar a cabeça, a andar e a enfrentar a luz: nada disso poderá fazer sem grande esforço; a luz encandear-lhe-á a vista e o deslumbramento produzido impedi-lo-á de distinguir os objectos cujas sombras via antes. Que julgas tu que responderia se lhe dissessem que até então apenas vira fantasmas e que agora tem ante os olhos objectos mais reais e mais próximos da verdade? Se lhe mostrarem imediatamente as coisas à medida que se forem apresentando, e se for obrigado, à força de perguntas, a dizer o que é cada uma delas, não ficará perplexo e não julgará que aquilo que dantes via era mais real do que aquilo que agora se lhe apresenta?
- Sem dúvida.

- E se o obrigassem a enfrentar o fogo, não adoeceria dos olhos? Não desviaria os seus olhares, para dirigi-los para a sombra, que enfrenta sem dificuldade? Não julgaria que essa sombra possui algo de mais claro e distinto do que tudo quanto se lhe mostra?
- Certamente.
- Se agora o arrancarmos da caverna e o arrastarmos, pela senda áspera e fragosa, até à claridade do Sol, que suplício o seu por ser assim arrastado! Como está furioso! E, uma vez chegado à luz livre, os olhos ofuscados com o fulgor dela, poderia ver alguma coisa da multitude de objectos a que chamamos seres reais?
- De início ser-lhe-ia impossível.
- Necessitaria de tempo, sem dúvida, para se acostumar a eles. Aquilo que distinguiria melhor seria, em primeiro lugar, as sombras; e, logo a seguir, as imagens dos homens e dos mais objectos, reflectidos à superfície das águas; por fim, os próprios objectos. Daí volveria os olhos para o céu, cuja visão suportaria com maior facilidade durante a noite, à luz da Lua e das estrelas, do que durante o dia, à luz do Sol.
- Sem dúvida.

- Por fim, encontrar-se-ia em condições, não só de ver a imagem do Sol nas águas e em tudo aquilo em que se reflicta, como de olhá-lo e contemplar o verdadeiro Sol no seu verdadeiro local.
- Sim.
- Depois disto, pondo-se a reflectir, chegaria à conclusão de que o Sol é o que determina as estações e os anos, e o que rege todo o mundo visível e que, de certo modo, é causa daquilo que se via na caverna.
- É evidente que chegaria gradualmente a tais reflexões.
- E se, então, se recordasse da sua primeira habitação e da ideia que aí formavam da sabedoria, ele e os seus companheiros de escravidão, não se regozijaria com a mudança e não teria compaixão da desgraça daqueles que permaneciam cativos?
- Certamente.

- Crês tu que agora ele sentisse ciúmes das honras, das vaidades e recompensas ali outorgadas àquele que mais rapidamente captasse as sombras, àquele que com maior segurança recordasse as que iam atrás ou juntas e por tal razão seria o mais hábil em prever a sua aparição, ou que invejasse a condição daqueles que na prisão eram mais poderosos e mais honrados? Não preferiria, como Aquiles, segundo Homero, passar a vida ao serviço dum pobre lavrador e sofrê-lo, a voltar ao seu primeiro estado e às suas primitivas ilusões?
- Não duvido de que preferiria suportar todos os males possíveis a voltar a viver de tal modo.
- Atenta, pois, nisto: se regressasse novamente à sua prisão, para voltar a ocupar nela o seu antigo posto, não se acharia como um cego, na súbita passagem da luz do dia para a obscuridade?
- Sim.

- E se, no entanto, ainda não distinguisse nada e, antes que os seus olhos se houvessem refeito, o que apenas poderia acontecer depois de muito tempo, tivesse de discutir com os mais prisioneiros sobre essas sombras, não se tornaria ridículo aos olhos dos outros, que diriam dele que, por ter subido até lá acima, perdera a vista, acrescentando que seria uma loucura o eles pretenderem sair do lugar onde se encontravam, e que, se alguém se lembrasse de tirá-los dali e levá-los para a região superior, se tornaria necessário prendê-lo e matá-lo?
- Indiscutivelmente.

- Pois, meu querido Glauco, é essa, precisamente, a imagem da condição humana. A caverna subterrânea é este mundo visível; o fogo que a ilumina, a luz do Sol; o prisioneiro que ascende à região superior e a contempla é a alma que se eleva até à esfera do inteligível. É isto, pelo menos, o que penso, já que o queres conhecer, mas só Deus sabe se é certo. Pelo que me toca, a coisa afigura-se-me tal como te vou comunicar. Nos últimos limites do mundo inteligível encontra-se a ideia do bem, que só com dificuldade se percebe, mas que, todavia, não pode ser percebida sem que se conclua que ela é a causa primeira de quanto há de bom e de belo no universo; que ela, neste mundo visível, produz a luz e o astro do qual a luz irradia directamente; que, no mundo visível, engendra a verdade e a inteligência; que é preciso, enfim, ter os olhos fitos nessa ideia, se quisermos conduzir-nos honestamente na vida pública e privada.
- Na medida em que pude compreender a tua ideia, concordo contigo.
- Tens, pois, de admitir e não estranhar que aqueles que alcançaram essa sublime contemplação desdenhem da intervenção nos assuntos humanos e que as suas almas aspirem, incessantemente, a fixar-se nesse lugar eminente. Assim deve ser, se isto está em conformidade com a pintura alegórica que esbocei.
- Assim deve ser.

27 de maio de 2008

Estrumpfes

Outro dia a ver um espectáculo de comédia foi colocada a questão: "Se sufocarmos um estrumpfe, de que cor ficará?"

"Violência" à parte, a questão até tem curiosidade quanto baste na sua lógica! Se calhar ainda vai no seguimento do tópico anterior.

Para os que não sabem ou não se lembram dos estrumpfes, deixo abaixo o genérico inglês da série para melhor visualizarem os mesmos, escusado será dizer que a questão prende-se com o facto dos estrumpfes serem... azuis!

Para os saudosistas da série/personagens, fica mencionado desde já que vai sair um novo filme dos estrumpfes previsto para 2009. De resto, aceitam-se teorias para a resposta!

25 de maio de 2008

As duas freiras

Recebi recentemente uma pequena história e decidi partilhar já que para além de estar bem conseguida e engraçada, a lógica no final de quem está a ler pode não ser a mesma para todos.

Duas freiras saíram do convento para vender biscoitos

Uma era conhecida como:

Irmã Matemática

A outra como:

Irmã Lógica

Está a ficar escuro e nós ainda estamos longe do convento! - diz preocupada, a Irmã Matemática.

E você já reparou que um homem está a seguir-nos já há meia hora? - responde a Irmã Lógica, apreensiva.

- Sim, o que será que ele quer?

- É lógico que só quer uma coisa: abusar da gente!

- Oh não! Se continuarmos neste ritmo ele vai alcançar-nos daqui a menos de 5 minutos. Temos que acelerar o passo!

- Mas não está a funcionar porque ele fez a única coisa lógica a fazer: começou também a andar mais depressa!

- E agora, que vamos fazer?

- A única coisa lógica que nos resta fazer, é separarmo-nos. A Irmã vai para um lado e eu vou para o outro. Assim ele não poderá seguir as daus.

Então o homem decidiu seguir a Irmã Lógica.

A Irmã Matemática chegou ao convento preocupada com o que poderia ter acontecido à Irmã Lógica e começou a rezar sem parar.

Passado um bom tempo, chega a Irmã Lógica.

- Irmã Lógica! Graças a Deus que chegou! Conte-me o que aconteceu?

- Aconteceu o lógico, não é Irmã? O homem não podia seguir-nos às duas e optou por me seguir.

- Sim, mas o que aconteceu depois?

- O lógico! Começei a correr mais depressa e ele correu o mais rápido que podia também.
E novamente aconteceu o lógico: ele alcançou-me


-Oh, meu Deus! E o que é que você fez?

- Eu fiz o lógico, levantei o meu hábito.

- Oh Irmã! E o que fez o homem?

- Ele também fez o lógico: desabotou o casaco e baixou as calças.

- Oh não! E o que aconteceu depois?

- Não é óbvio Irmã? Uma freira com o hábito levantado consegue correr muito mais rápido que um homem com as calças baixadas.

Lógico não é? Eu pessoalmente confesso que pensei noutra lógica :)

19 de maio de 2008

Quem é o quê?

Quando diz-se por aí que:

"os pretos tem um pau maior!"

Quem é que está ser racista/discriminatório? O preto ou o branco (ou outra raça)?

Quem está a ser machista? O homem ou a mulher (restringido-me a relações homem-mulher)?


A razão das perguntas? Apeteceu-me embirrar com o assunto...

16 de maio de 2008

6 ou 12?

Muito se tem falado de educação ultimamente, não venho falar das questões "sociais" ou de regulamentos. Venho falar por assim dizer da matéria que é dada nas aulas e da sua lógica, e vou fazê-lo com um pequeno desafio.

A questão seguinte apareceu-me há uns meses, é uma pergunta de matemática da 3ª classe, e supostamente nem deveria ser motivo de "discórdia".

- Num grupo de 4 pessoas, todas elas cumprimentam-se entre si. Quantos cumprimentos houve?

Ora sendo uma pergunta de matemática da 3ª classe, a lógica seria que cada pessoa cumprimenta 3 pessoas, sendo 4 no total a conta seria: 4 X 3 = 12

Mas se pedem para os pais, familiares ou outros para ajudar nos trabalhos de casa, os "adultos" já tem outra lógica, que a meu ver é: sujeito A cumprimenta 3 pessoas + sujeito B cumprimenta 2 pessoas (já foi cumprimentado pela A) + sujeito C cumprimenta 1 pessoa (já foi cumprimentado por A e B) + sujeito D cumprimenta 0 pessoas (já foi cumprimentado por todas as outras) = 6

Haverá duas lógicas para a mesma questão, ou é uma das lógicas (a de 6 cumprimentos) o resultado de uma "imposição" comportamental da Sociedade que transmite algo do tipo "1 cumprimento é ser-se socialmente correcto, dois ou mais é estar a abusar da outra pessoa (sobretudo se tratar-se de pessoas de géneros diferentes)?

Digam de vossa opinião, tanto para a vossa resposta ao exercício como à lógica!

2 de maio de 2008

Mitologia


A mitologia sempre foi um tema pelo qual tive e tenho muito interesse, desde às mais clássicas como a mitologia grega, romana, egípcia, nórdica, cristã, pagã, entre outras como também como as mais "modernas" que se vêem recentemente em jogos como o "Gathering" ou filmes como a saga do "O Senhor dos Anéis".

Já fui mais "viciado" no assunto, embora esteja sempre presente uma parte de fantasia, até neste blog se encontra essa influência. Hoje reavivaram-me a memória em certa medida, e tal acontece por um amigo meu ter-se iniciado nesta "epopeia" dos blogues :)

O seu nome (perfil) é Horus, e o seu blog é o "O Trono do Horus", para quem o conhece decerto pode esperar tópicos interessantes, os restantes visitantes terão que descobrir, mas será decerto uma boa descoberta.

E como já lhe disse no blog, que os céus lhe favoreçam nesta epopeia :)